Inovar é uma ação de tentativa e erro, e há necessidade de uma formulação jurídica para novos avanços, segundo o atual prefeito de Campinas
A cada dia a hiperconectividade, por meio da Internet das Coisas, quando diversos objetos se conectam e automatizam as nossas ações, e Inteligência Artificial, tornam-se cada vez mais presentes da nossa realidade. E aos poucos cidades dentro e fora do Brasil também caminham para este cenário, que no caso adota o conceito de Smart Cities, ou cidades inteligentes, em português — característica dada para as regiões que utilizam tecnologia e dados com a intenção de promover melhores serviços aos cidadãos.
Fazer parte do grupo das cidades inteligentes desperta a curiosidade e traz os holofotes , porém também levanta a dúvida, o que de fato é feito de inovador pelos integrantes do poder Executivo nestas regiões?
Política e o ecossistema de inovação
No evento Connected Smart Cities 2019, que aconteceu em setembro, na cidade de São Paulo, prefeitos e secretários de três Estados brasileiros e do Distrito Federal apontaram como estão desenvolvendo ecossistemas de inovação em suas respectivas cidades, debaterem como serem inovadores em um período de cortes orçamentários e opinaram sobre o que é necessário para a retomada do crescimento econômico do Brasil.
Seria possível uma secretaria funcionar como uma startup? Para Gilvan Máximo, secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação do Distrito Federal, isso é uma realidade. O político elencou a internet aberta em locais públicos, câmeras inteligentes e mobilidade elétrica como as últimas inovações na sua região.
“O wi-fi social gratuito já conta com 150 pontos na cidade e temos 400 ônibus funcionando com este sistema. Além desse projeto, a PPP de iluminação pública está em andamento para colocarmos mais de 50 mil câmeras espalhadas por todo o Distrito Federal, para implementar de vez a cidade totalmente inteligente”, diz Máximo. “E ainda a BMW cedeu 27 carros elétricos para o Governador, vice-governador e todo secretariado de Brasília.”
O secretário municipal de Inovação e Tecnologia da cidade de São Paulo, Daniel Annenberg, entende que a tecnologia é o meio pelo qual o poder Executivo local pode tornar a cidade melhor para os cidadãos. “Não adianta nada ter Inteligência das Coisas e Inteligência Artificial, se a gente não melhora os serviços públicos, se a gente não faz com que o cidadão tenha que se deslocar menos pela cidade”, explica Annenberg. “Desde o fim do ano passado não entra mais papel na prefeitura, temos serviços eletrônicos, como o Empreenda Fácil que permitiu abrir uma empresa na cidade de São Paulo em cinco dias. E vamos quintuplicar o número de wi-fis públicos, pois não adianta ter acesso à Internet na Faria Lima e não ter nas zonas leste e sul, causando uma exclusão digital.”
Foto Geralt (Pixabay)
Já Luciano Rezende, prefeito deVitória, é taxativo sobre a tendência do sumiço do governo vertical e analógico, com a chegada do governo horizontal e conectado nas cidades inteligentes.
“Uma cidade que não está conectada, não consegue entrar no debate e se movimentar com a sociedade que está toda em rede e horizontal. O governo que vai sobreviver é reto, transparente, eficiente e online para que todos possam acessá-lo”, aponta Rezende.
Sobre as ações de inovação na capital do Espírito Santo, o atual prefeito destaca como a inteligência artificial faz parte do cotidiano. “Na área de segurança pública a cidade de Vitória tem um Centro Inteligente de Segurança que fotografa, filma, armazena, responde a perguntas, interage e busca soluções em relação ao banco de dados que produz.”
No caso da cidade de Curitiba, Cris Alessi, presidente da Agência Curitiba de Desenvolvimento, comenta que a inovação na região aconteceu através da mudança de cultura no poder público, além do envolvimento de todas as secretarias do município. ”A gente transformou essa visão de tecnologia em um governo integrado, abrindo ao ecossistema de inovação, com o Sistema Vale do Pinhão, que traz incentivos fiscais às empresas de tecnologia, urbanização e sustentabilidade com novas energias e prédios verdes, promoção da cultura de inovação e educação empreendedora, e tecnologia para desburocratizar os serviços e colocá-los mais próximos ao cidadão digitalizado”, explica.
Para Jonas Donizette, prefeito de Campinas — eleita a principal cidade inteligente do Brasil em 2019 — conta que a inovação começou quando a classe política na cidade se questionou em como projetar a sociedade para as próximas décadas, através dos estudos da consultoria Urban System, uma consultoria de gerenciamento urbano. “O que vez a diferença em Campinas foi que fizemos um plano estratégico, que envolveu toda cidade. Nós trouxemos a Unicamp, CNPq, Instituto Agronômico, Instituto Eldorado e a sociedade como um todo para pensar ‘Como nós vamos projetar a nossa sociedade?’”’, explica. “Outro ponto muito importante foi envolver os nossos estudantes, as nossas escolas e criar uma conscientização de uma cidade diferenciada.”
Na visão de Luiz Fernando Machado, prefeito de Jundiaí, a gestão pública ainda é analógica enquanto a sociedade está cada vez mais digital. “Tecnologia é o meio e não o fim. Construimos um Fablab, onde as crianças aprendem fazendo. E introduzimos cursos de inglês e italiano na nossa rede municipal. Também realizamos uma parceria de evento com a NASA , no Science Day, que incentiva a ciência”, conta Machado ao descrever as novas ações de inovação promovidas na cidade.
Foto MacroVector (Freepik)
Como fazer mais com menos nas cidades inteligentes
O Brasil ainda vive um momento de instabilidade econômica e com isso as prefeituras sofreram cortes em seus orçamentos. Por tanto, a palavra de ordem é inovar, através da criatividade para fazer mais pelos cidadãos com menos recursos financeiros nas cidades inteligentes.
Fernando Trincado, secretário de Desenvolvimento Econômico da cidade de São Caetano do Sul, conta que parcerias foram necessárias para manter o município como destino para novos negócios. “As prefeituras não têm a velocidade da iniciativa privada e que o momento de inovação exige. Tentamos contornar com boa gestão, mas temos poucos recursos para inovar. Temos utilizado muito a criatividade, junto com o setor acadêmico para criar um ecossistema inovador e atraente para novos investidores e empresas na nossa cidade”, conta Trincado.
Para o prefeito de Vitória o conceito da cidade inteligente surgiu para inovar através da tecnologia para restar mais serviços com menos recursos. “A falta médica foi resolvida com o Confirma Vitoria, que serve para uma outra pessoa realizar uma consulta médica caso a primeira não confirme”, comenta.
A transformação digital também tem sido uma saída no atual momento financeiro da cidade de Jundiaí. “Criamos plataformas de gestão que estão associadas aos sistemas da cidade, para uma integralização. Hoje temos um aplicativo com mais de 140 serviços, no App Jundiaí”, diz o prefeito da cidade.
A tecnologia também ajudou o governo do Distrito Federal a economizar “Com inteligência artificial descobrirmos muitos aposentados fantasmas, e vamos colocar estes novos recursos na saúde e educação”, descreve o secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação.
Ações para o crescimento do Brasil
Por último os políticos foram questionados sobre as suas perspectivas para a retomada do crescimento econômico brasileiro.
Os prefeitos de Campinas e Vitória apontaram o sistema político como um agente imperativo no crescimento do País. “O Brasil precisa voltar a acreditar na política. Nenhum país superou os seus desafios fora da política. O Brasil precisa juntar as pessoas em cima de consensos”, diz Rezende. “Precisamos da participação popular, inclusão e fazer as coisas em conjunto com a população”, completa Donizette.
Já os secretários de São Caetano do Sul e Santos enfatizam a educação como o ponto de virada para a economia. “Precisamos melhorar a competitividade do setor privado e a capacidade da educação,” aponta Trincado. “Investir na educação com tecnologia e pesquisa, educação financeira, empreendedorismo, robótica, no momento atual do mundo e do Brasil”, opina Rogério Santos, secretário Municipal de Governo da cidade de Santos.
Alessi concluiu o evento ao falar da transformação necessária na mentalidade de quem atua no poder público. “A mudança de mindset é real nas empresas e é preciso transformar a gestão pública. Não podemos continuar fazendo as mesmas coisas. É preciso ter muita paixão pelo o que se faz.”
Foto (Freepik)
Ranking das cidades inteligentes no Brasil
Desde 2015, a Urban Systems realiza um ranking anual com 11 categorias (mobilidade e acessibilidade, meio ambiente, urbanismo, tecnologia e inovação, saúde, segurança, educação, empreendedorismo, energia, governança e economia) para premiar as principais cidades brasileiras que se destacam na inovação.
“O ranking serve para as cidades criarem um plano de ação, com startups, academia, e identificar quem são os parceiros que vão transformar a cidade com inovação e empreendedorismo”, descreveu Willian Rigon, diretor de marketing da empresa, no evento Connected Smart Cities.
A formulação do ranking é uma compilação de estudos realizados ao redor do mundo com um viés para a realidade brasileira.
Veja abaixo as 20 cidades mais inteligentes do Brasil em 2019 e as campeãs por categoria desde o início do estudo em 2015, segundo o ranking da Urban Systems. Para a lista completa acesse o link aqui.
POSIÇÃO | MUNICÍPIO (UF) | NOTA |
1o | Campinas – SP | 38,977 |
2o | São Paulo – SP | 38,505 |
3o | Curitiba – PR | 38,016 |
4o | Brasília – DF | 37,979 |
5o | São Caetano do Sul – SP | 37,816 |
6o | Santos – SP | 37,458 |
7o | Florianópolis – SC | 37,258 |
8o | Vitória – ES | 36,814 |
9o | Blumenau – SC | 35,731 |
10o | Jundiaí – SP | 35,417 |
11o | Campo Grande – MS | 35,219 |
12o | Niterói – RJ | 35,172 |
13o | Belo Horizonte – MG | 34,941 |
14o | Rio de Janeiro – RJ | 34,741 |
15o | Joinville – SC | 34,699 |
16o | Itajaí – SC | 34,604 |
17o | Balneário Camboriú – SC | 34,591 |
18o | São Bernardo do Campo – SP | 34,576 |
19o | Palmas – TO | 34,437 |
20o | Porto Alegre – RS | 34,209 |
CLASSIFICAÇÃO GERAL RANKING CONNECTED SMART CITIES | |||||
2019 | 2018 | 2017 | 2016 | 2015 | |
Connected Smart Cities | Campinas | Curitiba | São Paulo | São Paulo | Rio de Janeiro |
Mobilidade e Acessibilidade | São Paulo | São Paulo | São Paulo | São Paulo | São Paulo |
Urbanismo | Curitiba | São Paulo | Santos | Curitiba | Curitiba |
Meio Ambiente | Santos | Santos | Belo Horizonte | Belo Horizonte | Belo Horizonte |
Energia | – | Pirassununga | Tubarão | Guarapuava | Guarapuava |
Tecnologia e Inovação | Campinas | Rio de Janeiro | Rio de Janeiro | São Paulo | São Paulo |
Saúde | Vitória | Vitória | Vitória | Vitória | Vitória |
Segurança | Balneário Camboriú | Ipojuca | Vinhedo | Ipojuca | Ipojuca |
Educação | São Caetano do Sul | Vitória | Curitiba | Vitória | Vitória |
Empreendedorismo | Rio de Janeiro | Rio de Janeiro | São Paulo | Rio de Janeiro | Rio de Janeiro |
Governança | Brasília | Curitiba | Barueri | Curitiba | Curitiba |
Economia | Campinas | Barueri | Barueri | Rio de Janeiro | Rio de Janeiro |